"O amor não é essencialmente uma relação com uma pessoa específica; o amor é uma atitude, é uma orientação do carácter que determina a capacidade de uma pessoa se relacionar com o mundo na sua totalidade, e não apenas com um "objecto" de amor. Se uma pessoa ama apenas uma outra pessoa e fica indiferente ao resto dos seres humanos, então o seu amor não é amor mas uma relação simbiótica, ou um egoísmo aumentado.
(...) O tipo de amor mais fundamental, subjacente a todos os outros tipos de amor, é o amor fraterno. Este termo refere-se ao sentido de responsabilidade, de cuidado, de respeito e de conhecimento de outro ser humano, ao desejo de prolongar a sua vida. Este é o tipo de amor de que fala a Bíblia quando diz: "Ama o teu próximo como a ti mesmo". O amor fraterno é o amor por todos os seres humanos; é caracterizado exactamente pela sua falta de exclusividade. (...) No amor fraterno experimenta-se a união com todos os homens, a solidariedade humana, a comunhão humana. O amor fraterno baseia-se na experiência de que todos somos um só. A diferença de talentos, inteligência e conhecimento é coisa de somenos importância quando comparada com a identidade essencial que é comum a todos os seres humanos. Para experimentar esta identidade é necessário ultrapassar a asuperfície e atingir o essencial, o centro. Se eu vir noutra pessoa sobretudo a superfície, vou-me aperceber mais rapidamente das diferenças, daquilo que nos separa. Se eu chegar ao essencial, ao centro do seu ser, apercebo-me da nossa identidade, da nossa irmandade.
O amor fraterno é o amor entre iguais; mas, na verdade, mesmo como iguais nunca somos "iguais"; enquanto seres humanos precisamos sempre de ajuda. Hoje eu, amanhã tu. Mas esta necessidade não significa que um seja indefeso e o outro poderoso. Estar indefeso é uma condição passageira; a capacidade de se erguer e de caminhar sem ajuda é a condição permanente mais comum. Contudo, o amor pelos indefesos e o amor pelos pobres e pelos desconhecidos é o princípio do amor fraterno. Não é uma grande conquista amar os que são a carne da nossa carne.
(...) Na compaixão por aquele que está indefeso, o homem começa a desenvolver o amor pelo seu irmão; e no seu amor-próprio ama também aquele que precisa de ajuda, o ser humano frágil e insguro. A compaixão implica um elemento de conhecimento e de identificação."
(Fromm, E., 2002)
Á Mónica... pela pertinência dos seus comentários... e porque é também na AMIZADE que subjaz o AMOR FRATERNO... a capacidade de amar incondicionalmente, de aceitar,... de ultrapassarmos a diferença e olharmos para as similitudes...